quinta-feira, 9 de abril de 2015

Cinema: sal, terra e choque

Notícia por Nuno Miguel



A produção é franco-brasileira mas a realidade é internacional.
O filme em causa tem por título ‘O Sal da Terra’. Em formato documentário, resume a vida do fotógrafo Sebastião Salgado, sobretudo os seus últimos 40 anos, durante os quais esteve literalmente em todos os continentes do nosso planeta. Um resumo, por vezes, chocante. Mas real.
As fotografias, logicamente, comandam esta longa-metragem. São cerca de 100 minutos durante os quais o brasileiro Salgado – não há relação com o Ricardo, que se saiba – recorda os seus maiores projetos no mundo da fotografia. Ele que se formou em economia e que chegou a trabalhar para o Banco Mundial. O passatempo passou a muito mais do que isso e, com a companhia da esposa Lélia, mostrou-nos o mundo nas últimas quatro décadas. Com dedicação e coragem.
A Antena Web esteve presente na antestreia, na noite desta quarta-feira (8 de abril), e pode avisar: há imagens que chocam.

São fotografias que, no mínimo, não costumam estar no horizonte dos ocidentais. A fome na Nigéria, o genocídio no Ruanda e a guerra na Jugoslávia são provavelmente os capítulos que levarão alguns espetadores mais sensíveis a ponderar: “Vou conseguir continuar a ver isto?” – duas pessoas saíram mesmo durante a exibição do filme, na antestreia. Muita gente não está habituada a imagens tão explícitas, e tão próximas, de miséria e de sofrimento. São verdadeiras. As imagens e a miséria.
Suavizando estes cenários, e em contraste quase total, são exibidos também momentos bonitos e incríveis, que envolvem tribos que parecem do primeiro milénio, um urso polar em movimento, ou sobretudo aquilo que nos fascinou mais – a recuperação de nascentes e de milhares de hectares de mata atlântica (são dois milhões de árvores), que se transformaria num projeto do conhecido Instituto Terra.
Sebastião Salgado, hoje com 71 anos, já passou por muito calor, por locais perigosos, viu tiros serem atirados na sua direção, viveu num ambiente de 30 graus negativos, cruzou-se com centenas ou milhares de cadáveres... mas está vivo. E ainda está aí “para as curvas”.

Agora vê o seu percurso retratado num filme dirigido pelo seu filho Juliano Salgado, que trabalhou sob o comando do alemão Wim Wenders, por cá conhecido pelos filmes «O estado das coisas» e «Lisbon story». Ambos acompanharam Sebastião em algumas viagens, nos últimos anos.
Este filme, que foi referenciado na cerimónia dos Óscares, onde foi um dos nomeados para Melhor Documentário, estreou-se em França já há quase um ano. Chega a Portugal nestes primeiros dias de abril.


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